sábado, 26 de fevereiro de 2011

Proletários e a divisão do trabalho na grande indústria


Por: Albani de Barros

Sem o entendimento de como Marx descrevia a distribuição dos trabalhadores na grande indústria, o conceito que ele formulou sobre o trabalhador coletivo perde o sentido lógico. Isto não ocorre porque ele teria sido impreciso ao afirmar que para ser produtivo não há a necessidade de manipular diretamente o objeto (MARX, 1996), mas porque a interpretação de suas palavras é feita sem buscar em sua obra ao que ele objetivamente está se referindo. Se a análise da questão ficar restrita e isolada somente à frase que identifica que os membros que participam do trabalho coletivo “se encontram mais perto ou mais longe da manipulação do objeto de trabalho” (Ibidem, p. 137), estará se incorrendo num lamentável equívoco.
O texto de O Capital tem um absoluto rigor lógico, exatamente por ser meticulosamente preciso é que nenhuma parte dele pode ser ignorada. Utilizando um raciocínio “despedaçado” do texto de Marx, pode-se considerar até que, como o trabalhador intelectual não está próximo do objeto a ser manipulado, mas participa do processo como um todo da produção, então ele estaria desempenhando uma atividade que também é trabalho. Marx já havia identificado que o trabalho manual estaria cindido com o intelectual, ora, se foram separados e transformados em inimigos, como poderiam ter a mesma função? A resposta a essa questão é simples: o trabalhador intelectual não cumpre a mesma função do trabalhador manual, mesmo com a introdução da maquinaria moderna. Para o entendimento dessa questão é necessário compreender quem seriam esses trabalhadores que Marx descreve em O Capital  e qual função esses desempenhavam na produção. 
Marx (1996) afirma que é bastante ser órgão do trabalhador coletivo para trabalhar produtivamente, ele está salientando como ocorria a produção na grande indústria. Com o sistema de diversas máquinas instaladas na grande indústria, uma nova configuração na produção surgiu. Vejamos a descrição de nosso autor alemão no capítulo XIII, ao comentar a maquinaria e a grande indústria, bem como a necessária divisão do trabalho decorrente desse aspecto:

À medida que na fábrica automática ressurge a divisão de trabalho, ela é, antes de tudo, distribuição dos trabalhadores entre as máquinas especializadas e de massas de trabalhadores [...]. O grupo articulado da manufatura é substituído pela conexão do operário principal com alguns poucos auxiliares. (Ibidem, p. 53).


Quando Marx analisa a grande indústria já estabelecida na Inglaterra no século XIX e afirma que para “trabalhar produtivamente” basta ser pertencente ao grupo por ele denominado de trabalhador coletivo, ele se refere à forma como a produção ocorria no complexo da maquinaria, naquele estágio de desenvolvimento das forças produtivas. Ao analisar a produção mecanizada, o operário que manipula o objeto a ser transformado (natureza ou matéria-prima) recebe agora a colaboração de outros trabalhadores; são esses que podem estar mais perto ou distantes desta manipulação, mantendo o caráter produtivo (Ibidem) original do trabalho.
E ele diferencia os trabalhadores que diretamente manipulam o objeto e dos outros que o auxiliam:

A distinção essencial é entre trabalhadores que efetivamente estão ocupados com as máquinas-ferramentas (adicionam-se a estes alguns trabalhadores para vigiar ou então alimentar a máquina-motriz) e meros ajudantes (quase exclusivamente crianças) desses trabalhadores de máquinas. Entre os ajudantes incluem-se mais ou menos todos os feeders (que apenas suprem as máquinas com material de trabalho). (Ibidem, p. 53).

Marx escreve que alguns trabalhadores manipulam o objeto, ocupando atividades diretamente com a máquina-ferramenta.[1] Quanto a estes primeiros, não parece haver grandes questões a serem tratadas, já que eles são os responsáveis diretos pela conversão da matéria. Alguns outros alimentam a máquina–motriz[2] ou a vigiam, conferindo o momento certo de reabastecê-las. Estes trabalhadores colocam, por exemplo, o carvão para ser consumido pela máquina-motriz, “alimentando-a” com o combustível necessário para que gere a energia a ser distribuída com as máquinas menores (máquinas-ferramentas). Além da tarefa de suprir, esse grupo de trabalhadores vigia esta máquina, não o trabalhador, ou seja, este grupo de indivíduos colocados na produção não está controlando outros operários, mas atento ao maquinário.  Podemos considerar que esses trabalhadores estão mais distantes da manipulação; o motivo é que o equipamento com o qual eles trabalham é a máquina-motriz, responsável por fornecer energia às máquinas menores (Ibidem). No espaço físico da fábrica, esta máquina encontra-se alocada distante do local onde o objeto é manipulado, e os trabalhadores que nela atuam mantêm o caráter produtivo original do trabalho.
Além destes, há outro grupo auxiliando os trabalhadores que manipulam o objeto; são os ajudantes e os feeders. A tarefa desses é suprir as máquinas-ferramentas com o material de trabalho, isto é, trazer para junto deste equipamento o objeto natural ou a matéria-prima a ser transformada, de forma a que o trabalhador que está diretamente manipulando o objeto não interrompa a produção para ir buscar os insumos necessários. Portanto, a tarefa desses ajudantes é principalmente transportar estes insumos para perto da máquina-ferramenta; sua função tem um caráter pertencente ao trabalho manual, visto que, para que ocorra a conversão da natureza, é necessário que haja o transporte do objeto. Dessa forma, este outro grupo de trabalhadores está em alguns momentos perto da manipulação, quando, por exemplo, depositam a matéria-prima a ser trabalhada próximo à máquina-ferramenta; em outros instantes ficam mais distantes, quando vão buscar esses materiais. Nas duas situações, os ajudantes e os feeders também cumprem uma função produtiva no mesmo patamar dos trabalhadores que diretamente manipulam o objeto.
Nos dois casos analisados, tanto no grupo de trabalhadores que “alimentam e vigiam” a máquina-motriz, como no grupo de ajudantes que suprem as máquinas-ferramentas com material de trabalho, a função desses operários não é de controlar o trabalhador que está manipulando o objeto, mas de auxílio a esta conversão. Mesmo não atuando diretamente nessa transformação, como aqueles que efetivamente manipulam o objeto na máquina-ferramenta, a função exercida por esses trabalhadores é de pertencimento ao trabalho manual. 
Também existe outro grupo de trabalhadores que, apesar de também manter um tipo de vínculo com a produção, diferentemente desses anteriormente analisados, vão cumprir a função de controle sobre o trabalho manual. Trata-se do trabalho intelectual, que está presente no processo de produção. Percebendo tal situação, Marx argumenta que: “A determinação original, acima, de trabalho produtivo, derivada da própria natureza da produção material, permanece sempre verdadeira para o trabalhador coletivo, considerado como coletividade. Mas ela já não é válida para cada um de seus membros, tomados isoladamente” (Ibidem, p. 137–138). Como o trabalho não é mais puramente individual, mas de um pessoal combinado, quando é analisado o conjunto, é possível identificar o trabalhador coletivo como o que permanece com o caráter produtivo; entretanto, analisando estes indivíduos isoladamente, não. Os trabalhadores que manipulam o objeto, os que alimentam a máquina-motriz, os ajudantes e feeders que suprem com matéria-prima a máquina-ferramenta são os trabalhadores coletivos. Contudo:

Ao lado dessas classes principais, surge um pessoal numericamente insignificante que se ocupa com o controle do conjunto da maquinaria e com sua constante reparação, como engenheiros, mecânicos, marceneiros etc. É uma classe mais elevada de trabalhadores, em parte com formação científica, em parte artesanal, externa ao círculo de operários de fábrica e só agregada a eles. (Ibidem, p. 54).

Sobre esse último grupo citado por Marx, sua função não é de colaboração com os trabalhadores manuais anteriormente descritos; eles são externos ao círculo do proletariado (Ibidem), contratados para cumprir determinações oriundas da burguesia. A tarefa essencial destes é contribuir com o capitalista que os contratou para extrair dos trabalhadores manuais o máximo[3] de suas forças, a maior quantidade possível de sobretrabalho. O engenheiro e o mecânico participaram da concepção das máquinas e quando a idealizaram, tiveram a preocupação de conceber um equipamento que fosse capaz de obter o máximo possível de produtividade. Sua tarefa consistiu em possibilitar técnica e operacionalmente que o trabalho morto das máquinas sugasse tanto quanto possível fossem as forças do trabalho vivo (Ibidem); sua presença na produção apenas reforça o caráter hostil da separação entre a “mão e a cabeça”.
Tomando como referencial a teoria de Marx, os trabalhadores intelectuais não produzem a riqueza material, eles a organizam em função de determinações oriundas da classe proprietária dos meios de produção; portanto formam uma unidade de inteligência estranha e oponente ao trabalhador manual. O fato de serem necessários na organização da produção capitalista, não significa que também sejam indispensáveis num outro tipo de produção. 
Numa sociedade liberta do trabalho alienado, os trabalhadores manuais permaneceriam sendo rigorosamente imprescindíveis e poderiam ter sua organização baseada não no controle exercido pelo trabalho intelectual, mas na qualidade de produtores associados. Este tipo de trabalho nada tem haver com o trabalho cooperativista que ocorre no interior do capitalismo, refere-se ao processo onde os trabalhadores controlam de forma coletiva, livre e consciente, a produção e a distribuição da riqueza (TONET, 2007).


MARX, Karl. O Capital – Crítica da Economia Política. Livro primeiro, tomo 2. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

Ivo Tonet. Educação contra o capital. Maceió: Edufal, 2007.



[1]    A máquina-ferramenta é “um mecanismo que, ao ser-lhe transmitido o movimento correspondente, executa com suas ferramentas as mesmas operações que o trabalhador executava antes com ferramentas semelhantes” (MARX, 1996, p. 9). É na máquina-ferramenta que o objeto é manipulado pelo operário.
[2]    Marx também identifica a máquina-motriz como um equipamento que “atua como força motora de todo o mecanismo. Ela produz a sua própria força motriz, como a máquina a vapor, a máquina calórica, a máquina eletromagnética etc., ou recebe o impulso de uma força natural já pronta fora dela, como a roda-d’água, o da queda-d’água, as pás do moinho, o do vento etc.” (Ibidem, p. 9). Trata-se do equipamento que fornece energia e que coordena o funcionamento das outras máquinas menores, chamadas de máquinas-ferramentas. Isto ocorre através de mecanismos de “transmissão, composto de volantes, eixos, rodas dentadas, rodas-piões, barras, cabos, correias, dispositivos intermediários e caixas de mudanças das mais variadas espécies, regula o movimento, modifica, onde necessário, sua forma, por exemplo, de perpendicular em circular, o distribui e transmite para a máquina-ferramenta” (Ibidem, p. 9). É a máquina-motriz que supre com energia as máquinas-ferramentas operadas pelos trabalhadores que manipulam o objeto. Esse é o equipamento que é “alimentado” e vigiado por alguns trabalhadores, que igualmente aos operários que manipulam o objeto, também participam do grupo denominado por Marx de trabalhador coletivo.
[3]    A atividade de conceber uma máquina para ser utilizada na produção capitalista é uma das tarefas do trabalho intelectual. Este trabalhador assalariado idealiza e projeta instrumentos e equipamentos cuja finalidade é conseguir extrair o máximo de sobretrabalho, pois a determinação de suas funções é oriunda da mesma lógica de seu patrão.

2 comentários:

  1. essa merda vai tomar cú essa bosta que ñ vale nd essa porrra que sempre vai n csa do carai vai se fude bosta rui isso ñ seviu pra nada kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. de onde é essa foto? Alguma referência? :) Obrigada!

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