domingo, 27 de março de 2011

Precarização do trabalho, subcontratação e insegurança no setor nuclear


Trabalhadores subcontratados fazem o trabalho mais perigoso, recebem salários menores, suportam doses bem acima de qualquer um dos funcionários da central. E acontecem acidentes.



Os três trabalhadores japoneses contaminados – dois deles hospitalizados – por uma fuga de água altamente radioativa no reator 3 da central de Fukushima eram trabalhadores subcontratados. Os avisos dos respectivos dosímetros não foram respeitados, tendo os trabalhadores sido sujeitos a doses entre os 170 e os 180 mSv, perto da dose limite diária de 250 mSv para a qual se verificam sintomas físicos imediatos.
Desde o início das operações de controle da temperatura dos reatores, 14 trabalhadores da Tepco receberam doses acima dos 100 mSv, a dose limite típica a que um trabalhador do sector nuclear poderá estar sujeito durante um ano. A estes juntam-se mais de uma dezena de trabalhadores feridos e um morto quando das explosões dos edifícios dos reatores.
Todos estes acidentes aconteceram num quadro de operações de urgência e de desespero, em que as regras de segurança deixam de ser uma prioridade, onde o voluntarismo inconsciente anda de mão dada com a falta de transparência de quem dirige as operações.
Em Chernobyl também foi assim, embora a escala fosse outra. Cerca de 500 mil “liquidadores” – assim apelidados os bombeiros, os militares e todos os civis que participaram nas operações após o acidente – estiveram sujeitos a doses de radiação extremamente elevadas. Foram mais de 4 mil os que morreram como consequência direta da irradiação, dezenas de milhares contraíram doenças crônicas que os incapacitaram para sempre e que provocaram a sua morte prematura através de causas indiretas, não relacionadas com a radiação em si. Poderia pensar-se que os trabalhadores das centrais nucleares só estão sujeitos a estes níveis de periculosidade nos casos excepcionais em que ocorrem acidentes muito graves. Infelizmente assim não é.
Recentemente uma reportagem da La Une belga denunciou uma situação intolerável de subcontratação de trabalhadores no setor nuclear. Estes trabalhadores fazem o trabalho mais perigoso, recebem salários pouco superiores ao salário mínimo, suportam doses bem acima de qualquer um dos funcionários da central.
Não admira que as estatísticas de saúde dos funcionários permanentes da central revelem excelentes resultados, não são estes quem faz o trabalho sujo, em especial as entradas no ambiente altamente radioativo dos reatores durante as paragens para manutenção. Grave também é verificar que são atribuídas a estes trabalhadores subcontratados responsabilidades fundamentais para a segurança da central, responsabilidades essas que deveriam ser dos quadros da central, e mais preocupante ainda é constatar a pressão a que estes trabalhadores estão sujeitos para produzir bons, embora falseados, relatórios de segurança.

Fonte: Site Esquerda Net

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